31.10.10

da simplicidade

continuamente em busca do equilíbrio (mais que da perfeição...?): as coisas simples!

23.10.10

Sec.XIX


para onde vou

Para além da orelha existe um som, à extremidade do olhar um aspecto, às pontas dos dedos um objeto - é para lá que eu vou.
À ponta do lápis o traço.
Onde expira um pensamento está uma idéia, ao derradeiro hálito de alegria uma outra alegria, à ponta da espada a magia - é para lá que eu vou.
Na ponta dos pés o salto.
Parece a história de alguém que foi e não voltou - é para lá que eu vou.
Ou não vou? Vou, sim. E volto para ver como estão as coisas. Se continuam mágicas. Realidade? eu vos espero. É para lá que eu vou.
Na ponta da palavra está a palavra. Quero usar a palavra "tertúlia" e não sei aonde e quando. À beira da tertúlia está a família. À beira da família estou eu. À beira de eu estou mim. É para mim que eu vou. E de mim saio para ver. Ver o quê? ver o que existe. Depois de morta é para a realidade que vou. Por enquanto é sonho. Sonho fatídico. Mas depois - depois tudo é real. E a alma livre procura um canto para se acomodar. Mim é um eu que anuncio.
Não sei sobre o que estou falando. Estou falando de nada. Eu sou nada. Depois de morta engrandecerei e me espalharei, e alguém dirá com amor meu nome.
É para o meu pobre nome que vou.
E de lá volto para chamar o nome do ser amado e dos filhos. Eles me responderão. Enfim terei uma resposta. Que resposta? a do amor. Amor: eu vos amo tanto. Eu amo o amor. O amor é vermelho. O ciúme é verde. Meus olhos são verdes. Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros. Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber.
À extremidade de mim estou eu. Eu, implorante, eu a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta. Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo.
Eu à beira do vento. O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou. E me transmuto.
Oh, cachorro, cadê tua alma? está à beira de teu corpo? Eu estou à beira de meu corpo. E feneço lentamente.
Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós.

Clarice Lispector (inspiração daqui)

21.10.10

Catalunha em Pó

25 de Outubro, segunda-feira

Bearn ou a Sala das Bonecas, Lorenço Villalonga, Editorial Teorema, tradução de Helena Tanqueiro
Com a presença de Helena Tanqueiro (responsável do Centro de Língua Portuguesa em Barcelona e tradutora) e Anna Cortils (tradutora)

Na Pó DOS LIVROS

17.10.10

Sec.XIX

Pere Ysern Alié (1875-1946)

11.10.10

os gostos também se discutem

Beterraba
(de preferência em vinagre aromatizado)

que pena!

Não fui...
Pronto, não fui.
Era só isto.

3.10.10

dixit (II) last but not least

"Tenho em mim um amor bonito, um amor que me espreita do alto dos prédios, do topo dos prédios para os quais ninguém mais olha, só eu, com os olhos cheios das estrelas do dia e da noite. Tenho um amor bonito que acende as luzes das janelas no escurecer da tarde, que esvoaça as cortinas numa saudação invisível a todos os demais. Tenho um amor bonito que me vela o sono, que encosta seus cílios na pele do meu rosto quando quer sentir meu cheiro, que caminha de braços dados comigo mesmo depois que já foi embora, que me põe nos lábios todos os dias as pegadas de sua boca. Tenho um amor bonito que não esmaece, não amarela as folhas, não enfraquece, porque sabe meu nome, porque sabe meu silêncio, porque sabe todas minhas palavras secretas. Tenho um amor bonito que tem os dedos entre os meus cabelos e a mão sempre ao redor da minha cintura, seus olhos marejam e só eu percebo e meu coração se infesta de uma comoção indizível e delicada a cada sorriso seu, a cada lágrima disfarçada, a cada tom da sua voz. Tenho um amor bonito que põe no céu sempre uma lua cheia e no ar um perfume de maresia e ondas, seus sapatos estão sempre sujos de areia e ele emudece de repente e eu sinto seu olhar dentro de mim, onde só existe mesmo eu e tudo mais que ninguém mais vê, ninguém mais sabe. Tenho um amor bonito que impede que eu desista, que eu me canse, que eu entristeça ou desespere, que eu envelheça, me amiúde ou morra. Tenho um amor bonito que me reinventa para mim mesma, que me mostra cada vez a minha face mais exata, o meu corpo mais inteiro, o meu passo mais firme e certo. Tenho um amor bonito que não acaba mais. "

dixit (I)

"(...)Ora, se não há dinheiro para comprar nada, como espera o Estado receber mais de um imposto aplicado a bens de consumo? Para terminar o dia de pesadelo, Almeida Santos declarou que «o povo tem que sofrer as crises como o governo as sofre». Há uma mentira e um disparate nesta frase. A mentira é o governo sofrer como sofre o povo. O disparate consiste em pedir aos pacientes que entendam o sofrimento dos médicos.(...)"

óbvio

dixit

1.10.10

sensível não é o mesmo que frágil

uma abordagem afectiva das pessoas e dos assuntos continua a ser vista com desconfiança senão por muitos por demasiados ainda. há os que continuam a preferir a pseudo-competência do "estatuto" com base mais na certeza afirmativamente imposta que no conhecimento profundo ou intuição superior.
para mim, o truque dos incompetentes sempre foi e continuará a ser o tornarem-se "indispensáveis"...