4.8.10

brincadeiras

deponho com estranheza aqui uma confissão: não sei nem nunca soube brincar. quando era criança dizem-me que só queria folhear livros, às bonecas passava pouco cartuxo depois de um primeiro ritual matemático de lhes tirar a roupa(!), parece que andei encantada por uns tempos com um Egas e um Becas (viva a Rua Sésamo) que andavam à roda quando se lhes dava corda. E é tudo. Via televisão com grande alegria desde os 6 meses batendo palminhas aos anúncios(hein?!) que hoje raramente me prende talvez pelos excessos do passado ou porque a caixa encantada já não será o que era...
nunca tive prazer em brincar aos médicos, não sabia "fazer de conta" (acho que ainda hoje a coisa é difícil. sou virginiana logo não invento...) e também os legos estavam sempre guardadinhos na sua caixa. mais tarde um jogo ou outro como o monopólio, e algumas vezes cheguei a montar um restaurante com aquelas loucinhas de porcelana, belos conjuntinhos de chá e panelinhas miniatura (lá vem o Séc.XIX), indício já de si do gosto sempre presente pela gastronomia e mesmo pela cozinha.
Freud talvez soubesse explicar. mas o certo é os psicólogos todos defendem que a brincar se adquirem muitas das competências para a vida. terei ficado, pois, longe de aprender de certo coisas fundamentais que me "tramaram" as vivências e convivências. não sei se dei por isso.
ainda hoje o meu lado lúdico se demarca do dos restantes (malgré tout, existe!). com dezoito anos preferia estar numa roda de amigos que tocasse viola ou a ouvir jazz by myself do que ir para a disco, embora goste muito de dançar, sobretudo a dois...e continuo a preferir ir à ópera aguentando um frio de rachar na Cerca do Castelo de Óbidos (nex saturday I'll be there!) ou um jantar a quatro vá lá seis, do que concertos em pé nos estádios ou aquelas alturas desalmadas e guinchos nos chamados divertimentos de feira que me aterrorizam e para mim são chamados de radicais...
mas eis senão quando me encontro a completar agora dois anos de estadia em casa a fazer de enfermeira mas sobretudo de mãe e me obrigam a brincar todos os dias! pouca sorte que me calhou, sacrifício dos mais duros...não se riam, que estou exausta! fui forçada a aprender, embora me tente sempre esquivar insistindo nos jogos e nos puzzles mas não conseguindo saír muitas vezes vencedora e portanto enquanto houve escola benditas aquelas horas, ai que me dá um xilique de ter de acelarar carrinhos, de ter de dar nomes a Barbies despenteadas.
Freud saberia explicar(?) que me tenho reconciliado muito contrafeita com as brincadeiras de criança. os meus filhos assim decidiram e Deus também. parece fácil a vós mas a coisa agora em adulta é bem diferente e as dificuldades andam da cabeça para as mãos e das mãos para a cabeça. creio que estou a conseguir uns mínimos. queira Deus também que entretanto venha a sensação de divertimento...
no fundo ainda possuo a secreta esperança de um dia destes me encontrar com um(a) outro(a) extraterrestre vindo(a) de mesmo planeta que eu!

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