15.12.09

a reflexão do ilhéu

somos ou não ilhas? tanto se escreveu, tanto se disse. há quem defenda que sim, há quem afirme que não. na realidade é muito mais complexo que isso. não estamos sozinhos quase nunca a não ser que optemos drasticamente por isso. mas podemos sentir-nos sós. no meu caso sinto claramente que não. passando por sofrimentos, decepções, tristezas, dores, grandes arrelias nunca me senti sozinha. e tudo isso também faz parte de viver. é nestas alturas que se sentem, admitem, ouvem e partilham muitas coisas que em situações mais vulgares e comuns não se consegue fazer. mesmo só na minha dor, fui sempre além, até aos outros e os outros vieram até mim. cada um à sua maneira, aqueles que estiveram comigo não garantindo a minha sobrevivência fizeram e fazem com que eu mesma garanta que me mantenho à tona do mar das emoções. e isso faz toda a diferença. nos momentos piores porque tive com quem dividir lágrimas e às vezes meia dúzia de palavrões daqueles que não vêm no dicionário. nos melhores porque partilhadas as coisas boas ganham toda uma nova dimensão.

portanto ilhas, talvez, mas eu diria que somos sim arquipélagos. logo não estamos sós. somos individuais (unos ou não com o Universo já são questões mais esotéricas que ficarão para outras núpcias) mas sempre sabendo que a dois passos de distância está logo uma outra ilha ali ao lado. faz sentido porque fomos postos a viver em sociedade (as regras que usamos já é toda uma outra história) e faz sentido porque procuramos o outro. esta também chega a ser uma questão de fé. acreditarmos que não estamos sós é quase como um paradigma que nos define enquanto pessoas (ilhas) mais capazes de encarar o bom e o menos bom da vida. e isso ajuda muitíssimo.

(um abraço muito especial a duas ilhas que são as minhas irmãs, muito pouca gente sobrevive a uma doença longa mantendo o nível de apoio do início)

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