3.10.10

dixit (II) last but not least

"Tenho em mim um amor bonito, um amor que me espreita do alto dos prédios, do topo dos prédios para os quais ninguém mais olha, só eu, com os olhos cheios das estrelas do dia e da noite. Tenho um amor bonito que acende as luzes das janelas no escurecer da tarde, que esvoaça as cortinas numa saudação invisível a todos os demais. Tenho um amor bonito que me vela o sono, que encosta seus cílios na pele do meu rosto quando quer sentir meu cheiro, que caminha de braços dados comigo mesmo depois que já foi embora, que me põe nos lábios todos os dias as pegadas de sua boca. Tenho um amor bonito que não esmaece, não amarela as folhas, não enfraquece, porque sabe meu nome, porque sabe meu silêncio, porque sabe todas minhas palavras secretas. Tenho um amor bonito que tem os dedos entre os meus cabelos e a mão sempre ao redor da minha cintura, seus olhos marejam e só eu percebo e meu coração se infesta de uma comoção indizível e delicada a cada sorriso seu, a cada lágrima disfarçada, a cada tom da sua voz. Tenho um amor bonito que põe no céu sempre uma lua cheia e no ar um perfume de maresia e ondas, seus sapatos estão sempre sujos de areia e ele emudece de repente e eu sinto seu olhar dentro de mim, onde só existe mesmo eu e tudo mais que ninguém mais vê, ninguém mais sabe. Tenho um amor bonito que impede que eu desista, que eu me canse, que eu entristeça ou desespere, que eu envelheça, me amiúde ou morra. Tenho um amor bonito que me reinventa para mim mesma, que me mostra cada vez a minha face mais exata, o meu corpo mais inteiro, o meu passo mais firme e certo. Tenho um amor bonito que não acaba mais. "

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