29.12.09

change(s)

sou avessa a balanços de final de ano mas ter sabido há uns dias da mudança radical da minha amiga D. no âmbito profissional fez-me rever um pouco o ano que passou, que se alarga nesta óptica um pouco mais do que o ano civil. em termos de mudanças (a maioria delas bastante radicais) foi prolífero e variado para amigas(os) e conhecidas(os). não falando de mim que como já se percebeu passei por grandes mudanças que se iniciaram na saúde mas se estenderam a muitos outros campos e não me estou a lastimar não senhor.

a mudança também ela mudou, é curioso. dantes a mudança ia-se aproximando lentamente, como quem não quer a coisa e ia-se instalando a pouco e pouco até que se desse finalmente por ela. tínhamos tempo de nos habituar. agora já não. o acelaramento é tal que de um dia para outro se ficam a saber de alterações para nós só possíveis ao nível dos efeitos especiais nos filmes de ficção científica. os cenários mudam num abrir e fechar de olhos que é literal. penso que na minha (apesar de tudo parca) lista telefónica se contam pelos dedos de uma mão os que têm escapado a severas alterações de vida.
curiosamente continuo a seguir os mesmos blogs com uma novidade aqui e além. não faz parte do meu núcleo de amigos quase ninguém com blog mas também não faz falta porque sabemos uns dos outros mais pelo que não escrevemos do que ao contrário. posto isto, resta desejar um feliz ano novo a todos os que acham que a mudança do ano civil tem de facto importância e aos outros também.

22.12.09

sec. XIX


o que fica do Natal

quem passa por algum Natal com muitas dificuldades sejam de que ordem forem normalmente marca esta data como sendo triste. que não é o meu caso. o meu filho não deixa!
depois há aqueles que sempre põem defeitos de toda a ordem. é a música que é irritante, as lojas onde não se consegue andar, os sms que são em catadupa ou as comidas que pesam no estômago...
a alegria de voltar a poder ter (ao contrário do ano passado) um Natal em família e em casa faz com que eu particularmente não me queixe de nada e queira apenas felicitar a todas as pessoas que passam o Natal a trabalhar para que tudo funcione "lá fora" enquanto nós nem damos por isso no calor das festas e das conversas quando tudo está bem. a solidariedade é uma palavra gasta que só se diz e não se pratica quase nada.
na realidade o Natal é uma festa de anos e acontece na mesma quer estejamos assim ou assado. comprovo. se podíamos passar sem as festas. podíamos, mas garanto que não é (seria) a mesma coisa.
um Feliz Natal a todos!

17.12.09

praga de épocas festivas

atenção à melhor definição de calorias de sempre:

calorias são bicharocos que se escondem nos armários e apertam a nossa roupa durante a noite.

(no Natal são uma praga)

16.12.09

tangente

ouvido hoje de manhã na escola:

- hoje fulano de tal não vem, a mãe diz que está muito frio...

ah! pois claro, belo exemplo. hoje não se vai porque está frio, amanhã por estar um calor de rachar, no dia seguinte porque venta que sei lá. o clima observado pela janela directamente proporcional à quantidade de obrigações que se cumprem. muito bem. nada mais objectivamente educativo.

15.12.09

SEC.XIX


Caspar David Friedrich (1774-1840)

a reflexão do ilhéu

somos ou não ilhas? tanto se escreveu, tanto se disse. há quem defenda que sim, há quem afirme que não. na realidade é muito mais complexo que isso. não estamos sozinhos quase nunca a não ser que optemos drasticamente por isso. mas podemos sentir-nos sós. no meu caso sinto claramente que não. passando por sofrimentos, decepções, tristezas, dores, grandes arrelias nunca me senti sozinha. e tudo isso também faz parte de viver. é nestas alturas que se sentem, admitem, ouvem e partilham muitas coisas que em situações mais vulgares e comuns não se consegue fazer. mesmo só na minha dor, fui sempre além, até aos outros e os outros vieram até mim. cada um à sua maneira, aqueles que estiveram comigo não garantindo a minha sobrevivência fizeram e fazem com que eu mesma garanta que me mantenho à tona do mar das emoções. e isso faz toda a diferença. nos momentos piores porque tive com quem dividir lágrimas e às vezes meia dúzia de palavrões daqueles que não vêm no dicionário. nos melhores porque partilhadas as coisas boas ganham toda uma nova dimensão.

portanto ilhas, talvez, mas eu diria que somos sim arquipélagos. logo não estamos sós. somos individuais (unos ou não com o Universo já são questões mais esotéricas que ficarão para outras núpcias) mas sempre sabendo que a dois passos de distância está logo uma outra ilha ali ao lado. faz sentido porque fomos postos a viver em sociedade (as regras que usamos já é toda uma outra história) e faz sentido porque procuramos o outro. esta também chega a ser uma questão de fé. acreditarmos que não estamos sós é quase como um paradigma que nos define enquanto pessoas (ilhas) mais capazes de encarar o bom e o menos bom da vida. e isso ajuda muitíssimo.

(um abraço muito especial a duas ilhas que são as minhas irmãs, muito pouca gente sobrevive a uma doença longa mantendo o nível de apoio do início)

14.12.09

os gostos também se discutem

Azevinho (espécie em vias de extinção)

9.12.09

vivendo

muito devagar vou voltando à normalidade, se é que essa palavra é aplicavel. dizer que este ano que passou foi muito mau é uma definição ofensiva para o que realmente aconteceu nas nossas vidas. evoluímos todos muito, humanamente, e apesar de tudo houve sim excelentes pessoas a cruzarem o meu caminho. este ano teve muitas coisas positivas que passaram por aprender como realmente viver um dia de cada vez e como não deixar que as expectativas em relação aos outros nos moldem as relações (começando pelos filhos!) ou ainda por perceber verdadeiramente o que significa a palavra aceitar. neste ano o meu filho mostrou bem claro que há beleza e doçura e verdade no mundo. neste ano fiz novos amigos e reforcei laços com velhos amigos deixando para trás os que apenas pareciam ser amigos. aprendi muito mais do que no resto da vida inteira até agora. perdi muitas coisas mas ganhei muitas também.

neste ano que passou também perdi o meu emprego (saudações às mães em tempo integral), e quem se dedica a um filho doente sabe bem o quanto dói lutar uma luta que parece que só nós estamos lutando (além do próprio). é efectivamente extenuante fazer de enfermeira 24h por dia.

depois há a maratona "médica" que nem vou falar muito porque seriam necessários vários blogues para tratar do tema por completo...no país e no estrangeiro muita conversa existe para relatar...a seu tempo.

o ser humano está tão "formatado" que é demasiado difícil explicar. talvez através dos cadernos escritos diariamente por nós com todos os detalhes (ainda não devidamente aproveitados) se possam decifrar algumas coisas mas não restam dúvidas de que subsistem muito mais perguntas do que respostas.

por todo este tempo a minha vontade de escrever ficou dormente. é difícil praticar algumas coisas depois de testemunhar tanta ausência de alegria.

finalmente parece que a ferida começa muito devagar a não latejar tanto. deve ser da aproximação do Natal. a recordação do Natal passado dentro de uma unidade de cuidados intensivos faz reflectir em como todos os Natais apesar de "maus" são bons de alguma forma. pode ser que no meio da dor se encontre amor suficiente para aniquilar qualquer hipocrisia e cinismo de uma vez por todas. ou pode ser que alguém que não se esperava apareça para dar aquele abraço. talvez seja simplesmente um processo natural. ou talvez ao vermos a força interior de uma criança entendamos que conseguimos se quisermos saír de qualquer espiral descendente em que nos encontremos.

de repente a minha vontade de escrever parece (um pouco) restaurada. quero explicar coisas e dizer que já consigo outra vez ver beleza à minha volta e de como nada disto é mais um fardo que se carrega mas sim uma oportunidade para crescer e ver a vida com mais respeito. eu quis fechar o blogue porque pensava que não seria mais ser capaz de dizer nada a não ser falar mecanicamente.

então de repente apeteceu-me partilhar. escrever sobre a pessoa maravilhosa que é o meu filho. ou sobre o que é conviver com uma doença rara. ou ainda como se lida com a falta de um diagnóstico médico que nos ajude a entender...

ainda sem cura mas com a esperança como nome, a doença continua, já muito mais "controlada" (se é que controlamos alguma coisa neste mundo) e eu longe de ter a ferida sarada acho que iniciei finalmente o meu próprio processo de cura. a digestão começa a processar-se na realidade. enfim!