muito devagar vou voltando à normalidade, se é que essa palavra é aplicavel. dizer que este ano que passou foi muito mau é uma definição ofensiva para o que realmente aconteceu nas nossas vidas. evoluímos todos muito, humanamente, e apesar de tudo houve sim excelentes pessoas a cruzarem o meu caminho. este ano teve muitas coisas positivas que passaram por aprender como realmente viver um dia de cada vez e como não deixar que as expectativas em relação aos outros nos moldem as relações (começando pelos filhos!) ou ainda por perceber verdadeiramente o que significa a palavra aceitar. neste ano o meu filho mostrou bem claro que há beleza e doçura e verdade no mundo. neste ano fiz novos amigos e reforcei laços com velhos amigos deixando para trás os que apenas pareciam ser amigos. aprendi muito mais do que no resto da vida inteira até agora. perdi muitas coisas mas ganhei muitas também.
neste ano que passou também perdi o meu emprego (saudações às mães em tempo integral), e quem se dedica a um filho doente sabe bem o quanto dói lutar uma luta que parece que só nós estamos lutando (além do próprio). é efectivamente extenuante fazer de enfermeira 24h por dia.
depois há a maratona "médica" que nem vou falar muito porque seriam necessários vários blogues para tratar do tema por completo...no país e no estrangeiro muita conversa existe para relatar...a seu tempo.
o ser humano está tão "formatado" que é demasiado difícil explicar. talvez através dos cadernos escritos diariamente por nós com todos os detalhes (ainda não devidamente aproveitados) se possam decifrar algumas coisas mas não restam dúvidas de que subsistem muito mais perguntas do que respostas.
por todo este tempo a minha vontade de escrever ficou dormente. é difícil praticar algumas coisas depois de testemunhar tanta ausência de alegria.
finalmente parece que a ferida começa muito devagar a não latejar tanto. deve ser da aproximação do Natal. a recordação do Natal passado dentro de uma unidade de cuidados intensivos faz reflectir em como todos os Natais apesar de "maus" são bons de alguma forma. pode ser que no meio da dor se encontre amor suficiente para aniquilar qualquer hipocrisia e cinismo de uma vez por todas. ou pode ser que alguém que não se esperava apareça para dar aquele abraço. talvez seja simplesmente um processo natural. ou talvez ao vermos a força interior de uma criança entendamos que conseguimos se quisermos saír de qualquer espiral descendente em que nos encontremos.
de repente a minha vontade de escrever parece (um pouco) restaurada. quero explicar coisas e dizer que já consigo outra vez ver beleza à minha volta e de como nada disto é mais um fardo que se carrega mas sim uma oportunidade para crescer e ver a vida com mais respeito. eu quis fechar o blogue porque pensava que não seria mais ser capaz de dizer nada a não ser falar mecanicamente.
então de repente apeteceu-me partilhar. escrever sobre a pessoa maravilhosa que é o meu filho. ou sobre o que é conviver com uma doença rara. ou ainda como se lida com a falta de um diagnóstico médico que nos ajude a entender...
ainda sem cura mas com a esperança como nome, a doença continua, já muito mais "controlada" (se é que controlamos alguma coisa neste mundo) e eu longe de ter a ferida sarada acho que iniciei finalmente o meu próprio processo de cura. a digestão começa a processar-se na realidade. enfim!
3 comentários:
Welcome back.
Porque o que não nos mata, torna-nos mais fortes.
Good Luck
Obrigada!
é bem verdade!
:-)
Só hoje vi que tinas voltado a escrever!! Fico contente, até porque eu não tenho tido vontade nenhuma de escrever no meu...
É verdade o que dizes que nos tornamos mais fortes, senão a vida dá cabo de nós.
Beijinhos doces,
Sandra Micaelo
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