1.7.08

human nature

conheço razoavelmente bem o meu país. através de um pai nascido em Alcobaça (quase) nómada e ávido de mudança nasci em Coimbra e lá passava os Natais na minha infância. vivi em Mira de Aire, passei férias em S. Martinho do Porto, alternadamente com a Consolação, fui a termas ao Gerês durante muitos anos (levava-se um dia inteiro para lá chegar, meu Deus) e no carnaval "fugia-se" para a Serra da Estrela.

ia-se comprar Brisas do Lis a Leiria porque se tinha vivido nos Marrazes e à Figueira da Foz visitar amigos ou a banhos a Buarcos. Ia-se a Monsaraz comer um bacalhau esplêndido com amêndoas que lá havia e dava-se um saltinho a Arraiolos para comprar tapetes. Na altura da feira do cavalo ia com um tio meu a Santarém que me fez apaixonar pelo jardim das Portas do Sol e pelos pampilhos (por tourada nunca conseguiu...). Havia onde por brincadeira se pisavam uvas em Caldas da Raínha sendo Óbidos paragem sempre obrigatória. chegámos a ter "casinha" alugada ao mês ao pé do Baleal quando o meu pai achou que a Consolação tinha sido "invadida" de "veraneantes". A gastronomia teve sempre um papel relevante dentro de portas e trazia-nos a mais valia das viagens ou porque eram precisos percebes da Nazaré ou porque havia saudades de comer uns ovos moles acabados de fazer, em Aveiro.


Ia-se a Constância admirar a beleza das "raízes" da família e demorava-se junto ao rio para apreciar devidamente um bom ensopado de enguias ou então passavam-se fins de semana relaxados na Arrábida de águas límpidas com a mira de ir também cheirar uns salmonetes a Setúbal ou Palmela, chegando mesmo a passar uns dia em Sesimbra. O peixe foi sempre obrigatório em grande quantidade e em Peniche chegámos a ir de noite esperar os barcos com a sardinha a saltar. Que vida aquela!!!

Depois, quando novos rumos nos trouxeram para Torres Vedras (cidade sem graça apesar do seu central Jardim da Graça mas donde é natural a família materna), ia-se à praia a Santa Cruz e à Ericeira comer gelados e marisco. a Sintra comprar travesseiros e queijadas (o pai gosta sem "casca") e demorávamos a apreciar a marginal sem faltarem mais à frente os pasteis de Belém onde me deslumbrava Lisboa, a sua luz e o Castelo onde casou uma das minhas irmãs. Enfim, nessa altura iam também buscar-se pequenos Moulinex (passo a publicidade mas de facto cresci rodeada deles...) a Sevilha e aproveitava-se para trazer caramelos de pinhão, um must para a minha mãe, o que nos fazia trazer igualmente barros de Elvas e vinho "carrascão" alentejano.

Fiz uma parte dos estudos no Porto e aproveitei para conhecer um pouco melhor a maravilha que é o Douro, a belíssima Régua e o Pinhão. De todo o país o que conheço pior são os extremos, Trás-os-Montes onde só fui uma vez (que me lembre) ver as amendoeiras em flor e o Algarve onde o meu pai dizia que "pagar para estar na fila para tudo" não era para ele. Mesmo assim cheguei a ir conhecer o interior mais propriamente Monchique onde também passámos umas férias num dado ano. Hoje em dia passo a vida em Cascais, onde trabalho e onde vou tomar café à Guia, um dos sítios por aqui que mais gosto.


Continuo, por (de)formação profissional e gosto a viajar, e já muito mais tarde conheci melhor Tomar, Vila Viçosa e até Évora pela qual tenho uma paixão que não se explica. Era isto para dizer, que gosto muito do nosso/meu país (e não "deste" país como se ouve constantemente...) mas nunca me senti portuguesa em regime de exclusividade. acho, acho não, tenho a certeza, que somos todos cidadãos do mundo e que o "nosso" sítio será sempre aquele onde nos sentirmos melhor e onde tivermos melhores condições para viver e com condições não me refiro só às (óbvias) monetárias. o meu amor por Portugal não se desvaneceu nem um pouco mas vai pesando em mim a sensação (muitíssimo forte outrora e que depois empalideceu um pouco) de que o meu sítio (já) não é aqui...


(...e dói!)

2 comentários:

Ouriço disse...

Bem! Fiquei com vontade de viajar!!!!
Não consigo atinar com os pampilhos... Eu é mais queijinhos de amendoa de Évora, essa cidade esplendorosa ou os ovos moles de Aveiro, claramente.

esquilo disse...

viajar e folia são duas palavras que nos transportam logo...

obrigada pela "viajem" até aqui a este bosque!

:))